A SPA manifesta o seu grande pesar pelo falecimento do pintor Júlio Pomar, associado da cooperativa desde 20 de Abril de 1995. Júlio Pomar, também poeta, faleceu no Hospital da Luz ao 92 anos. Foi uma figura central de toda a vida artística e cultural na segunda metade do século e já no século XXI. O corpo do pintor encontra-se em câmara ardente no Teatro Thalia. As cerimónias fúnebres estão marcadas para as 16 horas de quinta-feira naquele espaço cultural, sendo reservadas à família.
Júlio Pomar nasceu em Lisboa em 1926. Depois de ter sido, nas décadas de 40 e 50, um dos mais destacados artistas do neo-realismo, seguiu outros caminhos, sempre marcado pela viagem, pelo erotismo e pelo património rico e motivador da memória.
Grandes exposições da sua obra realizadas nas últimas décadas na Fundação Calouste Gulbenkian, em Serralves e nos museus de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília consagraram a sua obra como umas das mais representativas de sempre da história da pintura portuguesa.
Nos últimos anos, Júlio Pomar visitava com frequência o “atelier-museu que tem o seu nome e que se encontra situado defronte da casa onde onde viveu, na Calçada do Combro.
Estudou na António Arroio, onde foi colega de Mário Cesariny, Cruzeiro Seixas e Vespeira. Mudou-se depois para o Porto, onde foi colega e amigo de Fernando Lanhas, com quem participou em exposições realizadas naquela cidade. Obras como “O Gadanheiro” e “O Almoço do Trolha” são das mais representativas da sua ligação à estética neo-realista.
Júlio Pomar foi militante do PCP e activista de MUD Juvenil, o que determinou a sua prisão pela PIDE. A partir de 1956 foi um dos organizadores e participantes nas Exposições Gerais que reuniam artistas que se opunham ao regime de Salazar. Viajou nesses anos com frequência por cidades como Paris, onde viveu vários anos, e Madrid, mas também por Itália e Marrocos, com um interesse sempre renovado pela arte que nessas cidades e países podia ver. Tudo lhe interessou como pintor ao longo de uma vida intensa e profundamente criativa, desde os índios xingu à pintora mexicana Frida Khalo. Também pintou touros, tigres, macacos e tartarugas, sempre motivado pela cor e pelo movimento dessas figuras.
Recebeu o título de doutor “honoris causa” pela Universidade de Lisboa e foi distinguido com Prémio AICA e com o Grande Prémio Amadeo de Sousa Cardoso.
Júlio Pomar era pai do pintor Vítor Pomar e do crítico de arte Alexandre Pomar, a quem a SPA testemunha o seu pesar solidário nesta hora de perda para a cultura e a arte em Portugal.
Importante e urgente é que o público possa agora ver os seus quadros nos museus portugueses e que saiba mais sobre a sua vida e obra.
Júlio Pomar pintou em 1992 o retrato de Mário Soares, que representa o Presidente da República na galeria de retratos dos Presidentes no Palácio de Belém. Foi grande amigo de Mários Soares, tendo estado os dois detidos ao mesmo tempo numa das prisões da ditadura.
Lisboa, 23 de Maio de 2018