A SPA manifesta o seu pesar pela morte, aos 96 anos, da escritora e cronista Isabel da Nóbrega, cooperadora da instituição desde Novembro de 1978 e que foi, durante décadas, uma figura de referência e prestígio no quadro da vida literária e jornalística portuguesa, também devido à sua ligação sentimental com figuras marcantes da nossa vida literária, caso de João Gaspar Simões e depois de José Saramago, que lhe dedicou o romance “Memorial do Convento”.
Isabel da Nóbrega, pseudónimo de Maria Isabel Guerra Bastos Gonçalves, nasceu em Lisboa em Junho de 1925 e, ao longo de uma vida extensa e intelectualmente muito produtiva, publicou ficção, contos, teatro e até literatura para os mais novos. Em 1965, foi distinguida com o Prémio Camilo Castelo Branco pelo livro “Viver com os Outros”. Influenciada pelo “nouveau roman” e pela obra de Virgina Woolf, bateu-se sempre pelos direitos das mulheres e pela sua autonomia na vida cultural e social. Foi uma das fundadoras do vespertino “A Capital”, colaborando depois no “Diário de Lisboa”, no “Diário de Notícias” e no “Primeiro de Janeiro”. Colaborou com várias editoras também como tradutora. Nos anos 50 separou-se do cardiologista Abreu Loureiro com quem vivia no Estoril, iniciando uma relação longa com o crítico, ficcionista e ensaísta João Gaspar Simões. Manteve longas relações de amizade com Natália Correia e com Sophia de Melo Breyner e conheceu escritores com grande reconhecimento internacional como Henry Miller.
Manteve uma forte relação sentimental com José Saramago cujos contactos no meio literário ajudou a aprofundas e a consolidar. Saramago era editor nos Estúdios Cor e era ainda pouco conhecido fora do meio literário.
O livro “Quadratim”, de 1976, reuniu as sua crónicas mais importantes, vindas a lume em vários jornais. Foi também colaboradora destacada em programas de rádio.
Foi uma das organizadoras do 1º Congresso dos Escritores Portugueses, logo após o 25 de Abril de 1974.
Nos últimos anos recusou-se a dar entrevistas, mas manteve-se sempre atenta à realidade literária, social e política. Isabel da Nóbrega sempre acreditou na consagração da obra de Saramago, deixando progressivamente de publicar novos livros. Sabe-se que guardou o fraque do pai porque acreditava que José Saramago o poderia usar na cerimónia de entrega do Nobel da Literatura. Mulher elegante, determinada e muito culta, nunca aceitou comentar o facto de Saramago ter decidido apagar as dedicatórias que lhe foram destinadas em obras essenciais do seu percurso literário.
Ajudou a divulgar, em sessões com escassa promoção, a obra de poetas que muito admirava.
A separação de José Saramago foi um acontecimento que muito a marcou e em larga medida isolou.
Em 2008, a SPA atribuiu-lhe o Prémio de Consagração de Carreira, que foi um dos últimos actos culturais em que participou, reencontrando muitas pessoas que a admiravam e não queriam vê-la afastada.
Lisboa, 3 de Setembro de 2021