A SPA manifesta o seu sentido pesar pelo falecimento do Dr. Mário Soares, que foi três vezes Primeiro-Ministro de governos constitucionais e duas vezes Presidente da República, para além de ter sido também deputado, eurodeputado e mais uma vez candidato à Presidência da República.
Mário Soares foi sempre, antes e depois do 25 de Abril, um homem de cultura contando-se entre os seus grandes amigos de longa data, desde o tempo da resistência, figuras como o pintor Júlio Pomar. Disse numa entrevista que poderia ter sido jornalista ou escritor, mas, sendo filho de João Soares, ministro de um governo da República, optou pelo exercício pleno da política, o que lhe valeu 12 prisões e períodos de deportação em São Tomé e Príncipe ou de exílio em França. Também foi sempre amigo de escritores, podendo citar-se Aquilino Ribeiro ou Manuel Mendes.
Mário Soares inscreveu-se como autor na SPA em 23 de Maio de 1990 e foi distinguido com o Prémio de Vida e Obra no final da gala anual da cooperativa realizada no CCB em 2012. Na intervenção que fez nessa ocasião salientou a cultura e da criação artística na vida de um país e referiu as ligações profundas que sempre teve com esse sector. Enquanto foi Primeiro-Ministro e Presidente da República nunca se afastou das áreas do pensamento e da vida cultural e científica.
Mário Soares foi o principal responsável político pelo processo de adesão de Portugal à CEE.
Morreu no Hospital da Cruz Vermelha, em Lisboa, ao fim de 26 dias de internamento.
Mário Soares nasceu em Lisboa na Freguesia do coração de Jesus em 7 de Dezembro de 1924, licenciou-se primeiro em Histórico-Filosóficas e depois em Direito, tendo sido advogado durante anos, destacando-se pela defesa de vários presos políticos graciosamente, caso de Octávio Pato, dirigente do PC. Foi também advogado da família do general Humberto Delgado após o seu assassinato pela PIDE em Espanha, em Fevereiro de 1965.
Esteve exilado em Paris, sendo professor em Vincennes. Na Alemanha, com o apoio de Willy Brandt, criou o Partido Socialista em Abril de 1973, um ano antes da revolução libertadora do 25 de Abril. Esteve muito ligado ao processo de descolonização que considerou ter sido um dos êxitos da democracia e que lhe granjeou antipatias políticas nesse sector da população oriundo das ex-colónias.
Pela sua actividade como dirigente partidário e como Presidente da República tornou-se um dos políticos europeus e mundiais mais importantes durante décadas como salientou António Guterres na mensagem emitida de Nova York a propósito do seu falecimento.
Foi militante do PC, partido que acabou por abandonar e em que se relacionou com Álvaro Cunhal. Casou-se com Maria Barroso e deixou como filhos Isabel Soares, ex -jornalista e directora do Colégio Moderno, e João Soares, deputado pelo PS na Assembleia da República e ex-ministro da Cultura.
Estreou-se em livro em 1950 com “As Ideias Políticas e Sociais de Teófilo Braga”, editado em 1950 com prefácio de Vitorino Magalhães Godinho. Deixou uma extensa obra publicada incluindo-se nela importantes entrevistas sobre a vida política nacional e internacional. Destaca-se dessa obra “Incursões Literárias”, da Temas e Debates, em 2003. Destaca-se esta obra por ser aquela em que mais recorda e acentua a sua ligação de sempre a escritores e à literatura. Mário Soares sempre se assumiu como um grande bibliófilo, tendo deixado uma biblioteca de grande qualidade e diversidade.
A Fundação Mário Soares tem sido um importante pólo da vida cultural e cívica portuguesa com assinalável trabalho de promoção de debates e de preservação da memória política, social e cultural portuguesa de várias décadas.
A SPA sempre teve orgulho em saber que Mário Soares integrava a comunidade autoral portuguesa. Também por isso foi decidido atribuir-lhe o Prémio Vida e Obra na gala de 2012, facto que muito o satisfez. Recorde-se que a SPA atribuiu a Maria Barroso a sua Medalha de Honra como prova de apreço e admiração pelo seu trabalho cultural e de cidadania empenhada e combativa.
Associando-se ao grande pesar nacional pelo seu falecimento, a SPA endereça aos seus filhos e netos o testemunho do seu grande pesar e recordará sempre também a sua condição de autor, traço marcante da sua vida e da sua personalidade Para os autores portugueses, Mário Soares continuará a ser um símbolo e um pilar essencial das lutas pela democracia e pela liberdade.
Lisboa, 8 de Janeiro de 2017