Mensagem da SPA para o Dia Mundial do Teatro 2025, por Ana Zanatti

A vida é um mistério que o teatro ao longo dos tempos tenta desvendar.

O Teatro despe a vida, provoca a vida, acolhe a vida, retrata a vida, transforma a vida, insulta a vida, e tem também o génio, e a liberdade, para fazer tudo isto ao contrário.

No teatro cria-se, recriam-se realidades nem sempre mansas de enfrentar, mas por isso mesmo de grande poder transformador.

Pela palavra, pelo gesto, pela expressão de um olhar, de um corpo, pelos trajes, pelo cenário, pela luz, pelo som, o teatro espevita o mundo, estimula, questiona, subverte, diverte, aplaude, critica, surpreende, desperta.

O Teatro, derruba muros, é vanguardista, enfrenta os medos, e reunindo em si a literatura, a poesia, a pintura, a música, e outras artes, é um poderosíssimo agente de mudança. O Teatro e as suas máscaras desmascaram.

Ele é um espelho gigante onde se confrontam realidades, desafiam preconceitos e se inspiram novos futuros.

É um reflexo de quem somos, um espaço onde as nossas lutas, inquietações e esperanças mais profundas ganham vida.

No palco dá-se voz aos marginalizados, expõem-se injustiças, e somos convidados a olhar muito além da nossa trajectória pessoal, a viver outras vidas e experiências, desvanecendo os muros erguidos pelo medo e ignorância do que é diferente.

Desenganem-se os que vêm no teatro um mero entretenimento, e não valorizam a sua incalculável importância social e cultural. Os que enredados em políticas fiscais e monetárias, viram as costas à arte e aos artistas, esquecendo que a cultura é a maior riqueza de um país. Os que nos fazem repetir geração após geração, que os actores, o teatro e todos o que nele trabalham, merecem reconhecimento e apoio para prosseguirem com dignidade na sua missão.

Por outro lado, o sexismo não pode ignorar, e muito menos apagar, o valor inestimável da Mulher na cultura. Queremos ver mais textos que reflexionem sobre as questões das mulheres, mais encenadoras, mais cenógrafas, mais figurinistas, mais personagens femininas complexas e ricas de interioridade, para as nossas actrizes explorarem todo o seu potencial, mais mulheres na direcção dos teatros.

Numa época em que o racismo, a xenofobia, a homofobia e o sexismo estão a ressurgir com uma força alarmante, não nos podemos dar ao luxo de permanecer em silêncio. Estas forças de divisão e opressão ameaçam não só os indivíduos, mas o próprio tecido das nossas sociedades. E perante a escuridão, a arte – especialmente o teatro – tem o poder de ser um farol de resistência, verdade e transformação.

Todos, sem excepção, merecem que a sua história seja contada. Todos, têm o direito de pertencer. No Teatro não existem fronteiras, nem divisões entre os humanos.

No Teatro luta-se pela justiça, desafia-se a cegueira e a obstinação, quer através do riso, do texto poético, do diálogo realista ou surreal. O pano sobe, não para nos levar a um espaço de fuga, mas para nos propôr um convite à experiência emocional, ao estímulo da razão, à fruição de inúmeros sentidos.

Já não subo às árvores e também tenho subido menos ao palco.

Mas a minha voz sobe, hoje e sempre, para juntar-se à vossa, e gritarmos firme e orgulhosamente : Viva o Teatro!

Ana Zanatti
27 de Março de 2025

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