Mensagem de João Luís Barreto Guimarães (Prémio Pessoa 2022)
“Fico sempre um pouco desconcertado quando me pedem que participe nalguma iniciativa relativa ao Dia Mundial da Poesia. Para um poeta, todos os dias do ano são dias de poesia. Resulta estranho haver um dia assim. A existência deste dia para um poeta poderia constituir um dia de descanso – eis uma boa ideia – o único dia do ano em que o poeta não leria nem escreveria poesia. Fecharia os livros que recorrentemente abre, abandonaria blocos de notas e canetas, e sairia pelo mundo com a única preocupação de não escrever. O Dia Mundial da Poesia seria assim, para um poeta, um dia de férias.
A questão é que isso não é possível. Não se pode pedir a um poeta que não veja, que não escute, que não toque, que não anote ainda que mentalmente, os absurdos do mundo. Se todos os dias ocorrem absurdos, é necessário que exista alguém, particularmente atento, que chame a si a árdua tarefa de os registar, para dar testemunho da sua ocorrência. O silêncio do canto de uma ave que não seja registado num poema, não aconteceu. Não o registar resulta num facto de gravidade extrema.
O Dia Mundial da Poesia celebra, antes de mais, os leitores. A existência de leitores. A comunicação que se estabelece entre os que escrevem e aqueles que, generosamente, os leem. Abram-se, então, livros e cadernos e leiam-se, ainda que uma vez por ano, versos e poemas. Um pouco por todo o mundo.”
João Luís Barreto Guimarães
21 de Março de 2023
