A SPA propõe o apoio urgente do governo às livrarias ameaçadas de extinção

A evolução do mercado e a falta de apoios consistentes e bem direccionados faz com que aumente o número de livrarias que  fecham as suas portas, vedando o acesso aos livros, consumando a destruição de espaços de encontro e de convívio e o inevitável empobrecimento da vida cultural do país.

Na muito recente passagem de ano, mais duas livrarias (a Aillaud & Lello e a Book House) encerraram as suas portas, a primeira no Chiado e a segunda no Saldanha. Muitos bibliófilos e o público corrente ficaram privados de mais estes dois espaços de encontro e de regular consumo cultural. O volume elevado das rendas e a própria crise do mercado contribuíram para esta situação.

É urgente que o governo, à semelhança do que tem feito o executivo francês ao longo dos anos, procure e encontre medidas que lhe permitam intervir de uma forma solidária e eficaz na situação das livrarias. A França tem, em todo o território, 2.500 livrarias profissionais, e o Reino Unido um milhar.

Em 2013, a então ministra da Cultura de França, Aurélie Filippetti, anunciou um ambicioso plano de apoio às livrarias independentes, sublinhando, oportunamente, que “a livraria inscreve-se, como as bibliotecas, numa rede que permite a criação e a diversidade cultural”.

Algumas livrarias em Portugal prolongam a própria actividade cultural de forma descentralizada e com forte implantação nas comunidades locais.

A SPA recomenda ao governo a análise dos mecanismos de apoio às livrarias vigentes em França, com destaque para os criados pelo Centro Nacional do Livro e pelas direcções-gerais dos assuntos culturais e pela criação do selo de “livraria de referência”. Na realidade, é possível fazer mais e melhor em Portugal. Quando não há dinheiro, deve haver imaginação, agilidade e engenho, que também podem contribuir, por exemplo, para o apoio a uma colecção de reedições de obras clássicas de referência, hoje quase ausentes do mercado, proposta que a SPA chegou a apresentar ao  ministro da Cultura. Os custos nem são muito elevados e os resultados culturais são indiscutíveis.

Existe em França o programa de televisão “La Grande Librairie” que, além de entrevistar escritores e abordar temas ligados ao livro e à edição, todas as semanas revela uma livraria que, fora da capital, se bate pela difusão do livro e pela sua integração inovadora e estimulante na vida das comunidades.

A SPA, que não é empresa editorial mas tem delegações em todo o país, está disponível para intervir neste debate e dar o seu contributo para esta urgente reflexão colectiva. Poderá mesmo ajudar a criar espaços locais de promoção dos livros e discos que edita e cuja edição apoia e promove, alargando assim a qualidade e a diversidade da oferta cultural.

Portugal tem um Presidente da República que gosta de livros e de livrarias e que, por certo, não ficará indiferente a este processo de mobilização de meios e de vontades que evite, a muito curto prazo, o encerramento de mais livrarias. Sempre que uma livraria fecha, o país fica mais pobre.

À semelhança do que acontece com as estações de correio, que, por sinal também vendem livros, as livrarias têm um papel muito importante na vida comunitária porque são espaços de encontro, de atendimento e de serviço e de dinamização da própria vida colectiva. Permitir que se extingam é empobrecer a vida da comunidade e condicionar as expectativas e necessidades de muitos cidadãos. 

Lisboa, 17 de Janeiro de 2018

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