A Direcção e o Conselho de Administração da Sociedade Portuguesa de Autores manifestam o seu profundo pesar, revolta e solidariedade relativamente ao brutal acto terrorista que se abateu sobre a população de Paris causando muitas dezenas de mortos e de feridos, numa acção de intolerável irracionalidade que nunca poderá ser explicada por razões ideológicas, religiosas ou de outra índole. Mais de 130 pessoas foram assassinadas a sangue frio, sendo previsível que novas vitimas mortais se registem, por ser tão elevado o número de feridos graves. Para além das pessoas abatidas em esplanadas, cerca de 90 foram-no na sala de espetáculos do “Bataclan”, o que revela serem hoje as salas de concerto uma das mais importantes zonas de operação do terrorismo internacional. Nesse sentido, o brutal atentado terrorista não só atingiu uma cidade que simboliza o pensamento, a liberdade e a criatividade, mas atingiu também a cultura e as artes, impondo o encerramento de muitas dezenas de espaços designadamente culturais e um clima de medo e de contenção relativamente à vida quotidiana de uma grande capital conhecida pela forma como acolhe a diversidade e a diferença.
É ainda cedo para se extraírem conclusões políticas deste acto. Este é ainda o tempo do luto, do silêncio e da mais magoada revolta. Morreram muitas dezenas de pessoas inocentes. Quando um acto com esta dimensão ocorre perde a civilização, perde o humanismo, perde a liberdade e perde a cultura enquanto instrumento de diálogo e aproximação entre povos e culturas.
Não pode a SPA deixar de referir o facto de esta terrível acção de destruição ter ocorrido na cidade berço do direito de autor e grande parte da vida cultural europeia, dado que foi ali que, na sequência da Revolução Francesa os direitos e os interesses dos autores começaram a ser sistemática e eficazmente defendidos. Por esse motivo, a SPA endereça à Embaixada de França em Lisboa e à Direcção da SACEM, sua congénere francesa, o testemunho do seu mais sentido pesar e solidariedade, esperando que a Europa, através dos mecanismos que a democracia e os Estados de direito têm ao seu alcance, consiga evitar que o medo, o constrangimento e a inibição criadora tornem sombrio e sem luz o horizonte das nossa vidas. Os autores são sempre quem verdadeiramente sabe criar as condições para preservar a liberdade e para deixar portas abertas para que o mundo seja um lugar de esperança, de comunicação e de alegria, convicção que a brutalidade do terrorismo terrivelmente põe em causa.
Lisboa 16 de Novembro de 2015